As pessoas ignorantes e burras precisam de explicações simples e esquemáticas a preto-e-branco que lhes ofereçam, sem subtileza nem incómodo, resposta para as situações que as interpelam.
Uma delas tem sido, pois, o ataque ao governo venezuelano. Longe estou, creiam-me, daquela experiência. Contudo, dois reparos há que fazer. Não se trata de uma ditadura, pois ali até a oposição vence eleições. Não se trata, também, de um "regime marxista", mas de um programa distribucionista que, aceitemo-lo, fez bem a muita gente que não sabia o que era luz eléctrica, uma escola, três refeições por dia e uma ida ao médico.
Argumentam: o programa bolivariano falhou, há filas intermináveis para a aquisição de bens essenciais, há cortes de corrente, uma inflação galopante, desemprego incontrolável e falências. Ora, os mesmos que insistem nesse diagnóstico, são precisamente aqueles que não encontram relação alguma entre a crise de 2007-2008 e o capitalismo: os milhões de sem-abrigo na América, o colapso da Grécia e de Portugal, a fome e o desemprego em Espanha, os endividados para uma vida, os milhões que dependem da assistência das ONG's por essa Europa fora.
O caso venezuelano parece resumir-se ao desabafo desta mulher trabalhadora: restituíram-nos a dignidade. Infelizmente, como alguns émigrés fugidos à revolução, parece que a tal "oposição democrática" venezuelana faz bem o comentário que Talleyrand produziu: "não aprenderam nada, não esqueceram nada". O povo-miúdo venezuelano pode ficar bem ciente de que tal gente, se um dia regressar ao poder, não só vai restaurar o velho regime de "democracia para uns, colonização para a maioria", mas vai, também, tirar-lhes aquilo que não se troca por copos de cachaça e uma malga de sopa: a dignidade.
Miguel Castelo Branco
Fonte: Facebook
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